quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Le Petit Prince

"Quem és tu? perguntou o principezinho.

Tu és bem bonita.

Sou uma raposa, disse a raposa.

Vem brincar comigo, propôs o príncipe, estou tão triste...

Eu não posso brincar contigo, disse a raposa.

Não me cativaram ainda.

Ah! Desculpa, disse o principezinho.

Após uma reflexão, acrescentou:


O que quer dizer cativar ?

Tu não és daqui, disse a raposa.

Que procuras?

Procuro amigos, disse. Que quer dizer cativar?

É uma coisa muito esquecida, disse a raposa.

Significa criar laços...

Criar laços?

Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mi outros garotos.

E eu não tenho necessidade de ti.

E tu não tens necessidade de mim.

Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo..
.

Mas a raposa voltou a sua idéia:

Minha vida é monótona. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei o barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora como música.


E depois, olha! Vês, lá longe, o campo de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelo cor de ouro. E então serás maravilhoso quando me tiverdes cativado. O
trigo que é dourado fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento do trigo...


A raposa então calou-se e considerou muito tempo o príncipe:

Por favor, cativa-me! disse ela.

Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho tempo. Tenho amigos a descobrir e mundos a conhecer.

A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não tem tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres uma amiga, cativa-me!

O que é preciso fazer? Perguntou o principezinho.

É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na elva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...

No dia seguinte voltou.

Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde ás três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração...É preciso ritos.

Que é um rito? Perguntou o principezinho.

É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora diferente das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é um dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, seriam todos iguais, e eu não teria férias!

Assim o principezinho cativou a raposa. Mas quando chegou a hora da partida a raposa disse:

Ah eu vou chorar.

A culpa é tua, disse o principezinho, eu não te queria fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...

Quis, disse a raposa.

Mas tu vais chorar, disse o principezinho.

Vou, disse a raposa.

Então, não sais lucrando nada!

Eu lucro, disse a raposa. Por causa da cor do trigo. Depois ela acrescentou:

Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única do mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo.

Foi o principezinho rever as rosas:

Vós não sois absolutamente iguais a minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela é agora única do mundo.

Tu te tornas eternamente responsável
por aquilo que cativas
" (Antoine de Saint-Exupéry)

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